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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Resenha - Kill All Enemies

 No meio da banca de queima de estoque, em meio a vários outros livros, um me chamou atenção. Estava meio amassado, sujo em um lado, e a ilustração da capa não era muito convidativa. Mas o título gritava “Kill All Enemies”. Bem, não custava nada ler a sinopse:


Se você tem 15, 20, 45 ou 70 anos e está com este livro nas mãos, você está com sorte. Porque este é um belo livro, capaz de arrepiar, emocionar e fazer pensar. Estamos falando de emoção pura, à flor da pele, provocada pelas histórias de Billie – a menina sem pai nem mãe, boa de briga, que enfrenta o mundo na base da porrada –, de Rob – o gordinho boa-praça, fã de heavy metal, atormentado pelo padrasto em casa e pelo bullying na escola – e de Chris – o cara rebelde, em pé de guerra com a escola e que odeia fazer lição de casa. Depois de conhecer o dia a dia desta turma, é difícil imaginar como tantas coisas erradas, tanta tristeza, revolta e angústia cabem nos corações de pessoas tão jovens. Eles estão perdidos em meio a conflitos sem saída: pais controladores ou violentos, mães ausentes ou alcoólatras, mais preocupadas com namorados vagabundos do que com os filhos.
Bastou ler a orelha para me fazer comprar este exemplar um tanto maltratado – e custou somente 9,90 dilmas!
Não comecei a ler logo que voltei pra casa, mas alguns dias depois resolvi começar. E quando comecei... vocês já sabem, não consegui largar!

O  livro conta a história de três adolescentes cujas vidas já ultrapassaram o limite do que um jovem normal consegue aguentar. Dor, sofrimento, impaciência, acusações, eles passam por tudo isso, e aos poucos nós conseguimos enxergar esses personagens à nossa volta, na nossa vida, e num instante paramos pra pensar na forma como nós enxergamos esses seres que suportam tanta coisa e são julgados por tantos outros. Mas enfim.

O livro, do autor Melvin Burgess, é dividido em três partes, e cada capítulo é narrado por um personagem. A maioria deles é narrado pelos três protagonistas, mas alguns por outros personagens, necessários pra continuidade da narrativa. A escrita do autor é direta, sem muitas enrolações, e bem real, eu diria. O livro vai acompanhando o dia a dia dos personagens, e aos poucos você começa a perceber como eles estão relacionados entre si.

Uma coisa engraçada foi que, aquela página de agradecimentos do autor estava no fim do livro, mas eu não havia notado. E quando eu já estava no ultimo capítulo, eu pensei que haveria outro, e quando virei a página – eram os agradecimentos! E omg, morri aos poucos, porque queria continuar lendo, queria mais capítulos, mais de tudo!!!

Finalmente, este livro foi uma das leituras mais agradáveis que eu tive esse ano, com uma história onde o humor e a tristeza estão na medida perfeita, e no fim, mexe com você. Super recomendo, pra qualquer idade. Independente do estilo que você gosta, acho que irá gostar bastante!

É isso, então! Um grande beijo, até a próxima!

Obs.: A capa original é tão bonita! Não entendi porque essa brasileira ficou tão estranha!

Obs.²: Em vários momentos eu lembrei da série de TV britânica Skins, e nos agradecimentos o autor revela que originalmente, esta história seria para um programa de TV também. Não pesquisei sobre isso, mas será que seria uma possível concorrente de Skins?


Obs.³: As histórias vivenciadas são baseadas em histórias reais, cujos jovens que realmente passaram por isso inspiraram a criação dos personagens.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Leituras de janeiro #FAIL

Oi gente!

Já estamos em fevereiro, então tá na hora de mostrar pra vocês o que eu li no último mês. BUT infelizmente, minha fila de leituras não andou muito e eu acabei não conseguindo ler tudo o que eu tinha planejado. Mas vamos lá.

Eu comecei o ano lendo um livro da série de TV Doctor Who, o Quando Cair o Verão & Outras Histórias, e fiz resenha aqui.

Depois eu li O Palácio da Meia Noite, também com resenha.

Li também Wayne de Gotham, um livro muito bacana sobre o Batman. Não fiz resenha ainda, mas em breve eu posto.

E por último, eu li o incrível, maravilhoso e todos os outros sinônimos pra bom, Kill All Enemies.

Na última semana de janeiro eu comecei a ler O Orfanato da Srta. Peregrine e etc. mas eu ainda estava sofrendo da ressaca do Kill All Enemies, e a leitura não vingou muito :/
E também havia O Bicho-da-Seda, que eu queria ler antes das férias terminarem, mas não consegui.

Enfim, espero que este mês eu consiga terminar estes e, é claro, começar outros ^-^ haha

Até a próxima, então!

sábado, 24 de janeiro de 2015

Resenha - O Palácio da Meia Noite

Toda vez que eu pego um livro do Zafón pra ler eu sei que serei surpreendido. E eu sempre estou certo. É incrível a capacidade desse autor de criar mundos tão reais, e tão diferentes do que estamos acostumados a ver em livros. E mais uma vez, o mistério e a fantasia se misturam resultando num livro extasiante, repleto de segredos e aventura.

O livro começa contando como dois bebês gêmeos são separados logo após o nascimento, resgatados por um homem que foge de um vilão tão sombrio quanto Zafón consegue criar, numa perseguição pelas ruas de Calcutá, na Índia. A menina, Sheere, fica com a avó, e o menino, Ben, é entregue a um orfanato (não se preocupe, não é spoiler), e crescem longe um do outro até completarem 16 anos. E é aí que a aventura recomeça. 

Uma das coisas que eu mais gosto nos livros do Carlos, são seus personagens jovens e aventureiros. Mas diferente dos outros livros dele que já li, "O Palácio da Meia-Noite" conta não só com um ou dois personagens assim, mas com oito! Todos eles são membros da sociedade secreta Chowbar Society, criada pelos moradores do orfanato e que se reúnem numa velha mansão em ruínas, o Palácio que dá nome ao livro. Cada um deles tem sua personalidade e suas características tão bem construídas, que te cativam e te convencem. 

E há também o vilão, que segue o mesmo estilo dos outros vilões do autor. Desta vez o personagem tem um poder sobrenatural muito interessante, e as cenas dele são tão incríveis! Mas acaba que seu destino ao longo do livro remete muito ao que aconteceu com o vilão de As Luzes de Setembro, do mesmo autor. 

Zafón tem o dom de criar histórias de mistério e fantasia em universos tão comuns, o que dá ao leitor aquela sensação de também querer ser um herói. Porque os seus heróis são "críveis", assim como toda a situação que os envolve. Já no enredo, ele é mestre. É capaz de te levar por um caminho por todo o livro e no fim te surpreende com coisas que você nunca ia imaginar que aconteceriam.

Enfim, esse livro é perfeito pra quem gosta de histórias de mistério, e se fosse um filme seria uma aventura imperdível pra qualquer idade!

A edição brasileira foi publicada pela Suma de Letras, que também publica os outros livros do autor, e se eu fosse você, correria pra livraria pra comprar seu exemplar, garanto que não vai se arrepender!

domingo, 11 de janeiro de 2015

Resenha - Quando Cair o Verão & Outras Histórias

Eu comprei este livro há alguns meses, e mesmo sendo fã da série britânica Doctor Who, sempre o deixava no final da fila de leitura. Mas depois de tanto enrolar, tirei minha cópia da estante e li tudo de uma só vez!

Essa edição brasileira é da editora Suma de Letras, e conta com três histórias, envolvendo alguns personagens da série de TV. 

A primeira história chama-se “Quando Cair o Verão” e é escrita por Amelia Williams, personagem companion do Doctor na 5ª, 6ª e 7ª temporada, mais conhecida como Amy Pond. “Inspirado no episódio The Bells of Saint John, Quando cair o verãonarra a história da jovem Kate, que passa suas férias na vila litorânea de Watchcombe e está determinada a aproveitar ao máximo sua última semana de folga. No entanto, ao descobrir uma misteriosa pintura chamada “O Senhor do Inverno”, ela viverá aventuras que jamais poderia ter imaginado.” – sinopse da editora.
Esta primeira história é bem leve, com um enredo bem interessante, porém com uma narrativa pouco rica. Apesar disso, é uma aventura que qualquer criança adoraria.

A segunda história tem como protagonista a personagem Melody Malone, ou River Song, para os íntimos, e chama-se O Beijo do Anjo. “Inspirado em The Angels Take Manhattan, a detetive particular Melody Malone recebe uma visita inesperada: o astro de cinema Rock Railton. Ele acredita que alguém quer matá-lo e, quando menciona “o beijo do anjo”, Melody aceita o caso. E com o passar do tempo, a detetive logo descobre que o preço da fama é maior do que ela poderia imaginar.” – sinopse da editora.
Aqui sim, temos uma aventura digna de um episódio  próprio na série. River, ou melhor, Melody Malone, é fielmente tratada no livro como é na série, capaz de seduzir até mesmo o leitor. E o enredo, toda a trama que se desenvolve, é muito bem construída. Uma história de detetive que prende o leitor até a solução do caso.

Já a última história, traz não só um, mas três personagens da série. Madame Vastra, Jenny e Strax são os heróis de “O Demônio na Fumaça”. “Narrado por Justin Richards e inspirado pelo episódio The Snowmen, é um thriller no qual dois garotinhos, cansados de limpar a neve do pátio do orfanato, decidem fazer um boneco de neve — e se deparam com um mistério brutal. Fascinados e horrorizados, testemunham quando o boneco de neve começa a sangrar. A busca por respostas levará Harry, um dos meninos, à aventura mais perigosa e empolgante de sua vida.” – sinopse da editora.
Esta, das três, é a minha história favorita. Mais uma vez os personagens são descritos exatamente como na série, e apesar de toda a tensão do mistério principal, sempre tem um toque de humor (muitas vezes com o Strax envolvido) que dá uma quebra no clima. A cada parágrafo que eu lia eu imaginava como seria um spin-off da série de TV com estes personagens, e eles acabaram se tornando os meus preferidos da série. Aliás, eu li esta história toda de uma só vez, foi impossível largar o livro e eu fiquei naquele dilema – queria ler mais, mas não queria que acabasse! Hahah

Enfim, o único problema deste livro é que as histórias são muito curtinhas, e sempre te deixa com mais vontade de ler! É perfeito para os fãs da série – os whovians – mas também é uma leitura bem agradável pra quem não é. E quem sabe, lendo estas histórias o leitor que não conhece acaba se interessando pelo seriado?

P.S.: O livro também conta com uma introdução da Amelia, e uma entrevista com ela também. Para um leitor desavisado, pode não ter nada demais, mas para quem conhece o programa de tv, contém algumas informações especiais sobre essa personagem tão querida :3 Não vou falar nada, pois pra alguns pode ser spoiler, mas garanto que é bem emocionante, quase que te convence que eles são reais. É bem legal!

Por hoje é só, em breve eu volto com mais resenhas!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Leituras de Dezembro - 2014

Eu volteeeeeei... Agora pra ficaaaaar...

Depois de vários meses em silêncio, adivinha quem voltou????? Isso mesmo, euzinho aqui! O fim de ano foi meio estressante e eu mal tive tempo pra ler, muito menos pra postar aqui no blog. Mas passado este período, tô de volta, escrevendo sobre minhas leituras! 
Então aperta o play no vídeo abaixo e curte o post com essa trilha sonora maravilinda asjkasgf



Compras de fim de ano...
 Aproveitando a famosa Black Friday, na última semana de novembro, eu comprei alguns livros pra ler nas férias. Não li todos ainda, mas acho que consigo ler tudo até o fim de janeiro. Estes são os que comprei:




·         Um Mundo Brilhante, de T. Greenwood
·         As Luzes de Setembro, de Carlos Ruíz Zafón
·         Claros Sinais de Loucura, de Karen Harrington
·         O Palácio da Meia Noite, de Carlos Ruíz Zafón
·         Wayne de Gotham, de Tracy Nickman
·         O Bicho-da-Seda, de Robert Galbraith

Eu já li os três primeiros da lista. Alternei os estilos, comecei por um drama sobre um homem, nas suas relações no dia-a-dia, depois peguei um mistério de arrepiar os pelos da nuca, e terminei com o livro mais fofo e emocionante sobre o verão de uma menina de 12 anos. Foi legal essa mistura de estilos porque eu peguei um atrás do outro, embalei na leitura e só larguei depois que terminei. E nem tive ressaca literária!! E olha que eu sempre tenho...


“Claros Sinais” foi o último livro que eu li no ano de 2014, e com certeza vai ficar marcado em mim. Ele conta a história da menina Sarah, de 12 anos, que mora com o pai – depois de acontecer algo que eu  não vou contar com a mãe dela. No último dia de aula, seu professor passa como tarefa de férias que os alunos escrevam cartas, para algum personagem fictício ou pra alguém real. E é a partir daí que começa o desenrolar do enredo, que mostra o as férias de verão de Sarah. O livro é narrado em primeira pessoa, ou seja, é a própria Sarah que conta a história, alternando com as cartas que escreve para o seu personagem preferido – Atticus Finch, do livro O Sol é para Todos, de Harper Lee – e eu amo esse livro! Talvez seja por isso que gostei tanto de “Claros Sinais”. No final, até eu escrevi uma carta pra Sarah! Hahaha

Enfim, em breve eu conto mais sobre os outros livros que li, e também falo um pouquinho sobre outros livros que lerei este ano.
Então, beijocas! :*

sábado, 8 de novembro de 2014

Resenha - Assassinato no Expresso do Oriente

Apesar de sempre ouvir falar (muito) bem dos livros da autora Agatha Christie, nunca tinha lido um sequer. Nem mesmo seus mais famosos clássicos, que marcaram a literatura no mundo. Mas isso mudou há algumas semanas, quando encontrei essas novas edições LINDAS lançadas pela Editora Nova Fronteira. São novas edições em capa dura, com ilustrações belíssimas (só na capa, óbvio) que chamam a atenção na mesma hora. Impossível passar pela estante e não notar os livros. E por essa razão eu comprei o “Assassinato...”, já que era o que mais eu conhecia (e que também foi inspiração para um episódio da nova temporada de Doctor Who).

Neste livro, temos como protagonista Hercule Poirot, detetive que também habita outras histórias de Agatha, numa longa viagem de trem. Após algumas paradas, finalmente o Expresso inicia sua jornada através do frio insuportável, tendo como passageiros pessoas das mais diferentes classes, etnias e profissões. Mas com a tempestade de neve, a viagem é impossibilitada de prosseguir e o trem é obrigado a parar. E sendo isto insuficiente para a tensão de todos, na manhã seguinte à parada um dos passageiros é encontrado morto em sua cabine. O dono da companhia ferroviária logo pede ajuda ao detetive, seu amigo, para que o crime seja solucionado e o assassino, preso. Mas pegar um criminoso não é tão fácil quanto parece...

A escrita de Agatha é indescritível. Ela possui uma simplicidade e uma riqueza, que me prenderam nos primeiros capítulos. As informações e detalhes são lançados para o leitor no tempo certo, não confundindo-o mas, pelo contrário, viciando-o à história. As pistas sobre o crime são algo que nos ajudam a formular nossas próprias teorias, mas cada vez que pensamos saber quem é o Assassino, a autora apresenta um novo ponto de vista que traz outras várias possibilidades.

Por fim, o encerramento do caso é chocante. O final foi um dos mais surpreendentes que eu já li, me deixou boquiaberto. E com certeza eu vou ler mais livros dela! Mas houve uma coisa que me decepcionou neste livro: curto demais! Quando percebi já tinha devorado tudo!


Então, leitura recomendada a todos, até mesmo pra quem não curte muito histórias de detetive!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Conto - Exílio

Oi gente! Eu queria pedir desculpas por não estar postando muito. Estou em semana de provas na faculdade e não ando tendo tempo pra ler. Mas eu não me esqueci de vocês ^-^ Então dessa vez vou deixar aqui um conto que eu escrevi há algum tempo. Espero que gostem! Beijão

...

EXÍLIO
de Deleon Fernandes

Eu já não sabia o significado da palavra luz. A escuridão naquela cela era muito pior daquilo que eu via quando fechava meus olhos na hora de dormir. Tanto tempo trancada naquele cubículo negro foi mais que suficiente pra eu me esquecer de como um dia já fora o brilho do Sol. Sol... talvez jamais eu sentisse seu calor, visse sua luz. Mesmo ali, amarrada, num canto junto ao chão enquanto o suor e sangue se misturavam sobre meu corpo, os músculos labiais se comprimiam no que, talvez, se aproximava de um sorriso. As lembranças eram inevitáveis. Não, as lembranças eram tudo o que eu tinha, só isso. E sobre a cegueira obrigatória me vinham imagens daquela menina correndo na praia atrás de uma bola de pelos negros. Eu me perguntava quando foi que aquela menininha tão doce, inocente, se transformou nisso aqui. Parecia que foi ontem, e ao mesmo tempo que foi há tantas eras, que eu corria na praia, fugindo das ondas geladas. Kevin, o cachorrinho dado pela minha avó que morava longe, latia e corria ao meu lado, se divertindo, enquanto meus pais tomavam observavam sentados na areia. Há tanto tempo.
Um barulho soou pela minha cela. Logo, passos foram crescendo e reverberando nos meus ouvidos acostumados com o silêncio mortal que reinava. Passos pesados, com certeza mais de uma pessoa. Depois de dias presa, amarrada e machucada, sem ver ou ouvir nada, finalmente um sinal de que aquilo era real. Aquele pesadelo realmente existia. O som que podia ser um sinal de esperança, trouxe à memória todo o terror que havia passado. Mas o que estaria acontecendo? Pensei que ia ficar jogada ali até a morte. Na verdade, estava torcendo pra que este dia chegasse logo, quando finalmente fosse parar de respirar e, quem sabe, acordar em um lugar melhor. No entanto, junto com os passos pesados agora eu podia ouvir vozes. Vozes masculinas, falando alto em um idioma desconhecido. Estava ficando mais alto... Estavam chegando mais perto... Mais perto... Pararam. Silêncio.
A dor que eu senti quando abriram a pesada porta de ferro foi extasiante. Na escuridão, não percebi que meus olhos estavam abertos e quando a porta foi arrastada uma luz intensa e quente queimou minhas pupilas. Fiquei cega por vários minutos, tentando me acostumar com a luz, enquanto dois homens, presumi, me agarravam pelo braço, me desamarrando e então me arrastando pra fora da cela. Eu não tinha forças pra sequer me manter de pé, e senti minha respiração falhar à medida que era carregada por um longo corredor. Quando finalmente consegui abrir os olhos, a fraqueza mantinha minha cabeça abaixada, me permitindo ver somente minhas pernas cobertas de hematomas, enquanto um corte na altura da cintura fazia um pequeno filete de sangue escorrer. Meus seios descobertos exibiam cicatrizes e mais cortes profundos e arroxeados. A cada centímetro que eu me movia podia sentir o gosto de sangue na boca. Até que paramos. Os dois homens me jogaram no chão, a dor nos ossos e músculos me atingindo por completo. Eu tentei mover minha cabeça pra ver os rostos, mas não tinha forças. Só ouvi mais vozes discutindo, e um par de sapatos brancos e brilhantes caminharem em minha direção. Então, uma mão tocou meu ombro, e por um segundo eu senti uma compaixão vinda do dono dos sapatos. Em seguida fui erguida e posta em uma maca onde, deitada de barriga pra cima, senti novamente o Sol, brilhar sobre mim.

Eu não entendia aquilo tudo. Pra mim, minha sentença já havia sido decretada e eu morreria naquela cela minúscula dominada pela escuridão. Pelo jeito eu estava errada. Era improvável que eu seria liberta, que teria uma nova chance. Não, eles nunca fariam isso. Não seriam tão bons a esse ponto. Mas ali estava eu.
Enquanto era movida na maca, adormeci. Ou desmaiei, não sei ao certo o que houve. Mas fechei os olhos sob o céu e quando abri novamente, estava deitada em um colchão com lençóis extremamente brancos. Havia um lençol sobre meu corpo ainda nu, tão branco quanto o colchão. Aos poucos eu fui reunindo coragem pra mexer a cabeça e tentar ver onde estava. O teto que caía sobre mim era branco, assim como as paredes à minha volta, alvas como a neve que acumulava na casa de inverno de minha avó. Tanto branco me lembrou os feriados que passava naquela casa, o chá quente antes de dormir e as mãos reconfortantes daquela idosa a quem eu tanto amava. Não saberia dizer onde ela estava hoje, assim como qualquer membro de minha família. Fazia tanto tempo que não os via, nem sei quando foi a última vez. Eu fechei os olhos, revivendo as lembranças que ainda guardava. Era uma batalha constante não perdê-las pelo medo que me ocorria a todo instante, mas eu não as perderia, eu não as deixaria ir. Eu me concentrei, tentando lembrar de uma data específica, mas fui interrompida por um ruído abafado. Eu olhei à minha esquerda e vi, no chão, uma bandeja fechada. Um tanto receosa, levantei da cama baixa deixando o lençol cair. A visão do meu corpo destruído me causou náuseas, mas mantive a cabeça erguida olhando a minha frente. Aos poucos consegui andar até a bandeja e, quando abri, senti um arrepio na espinha de prazer. Um prato fundo guardava um liquido escuro, provavelmente uma sopa. Tomei a colher que estava ao lado do prato e levei à boca a primeira refeição em dias. Várias colheradas de uma vez só, sentindo aquele calor descer até meu estômago, e logo já havia chegado na metade do prato. Até que minha garganta rejeitou uma colherada e eu vomitei parte do que já tinha comido. Fazia muito tempo que não comia nada e agora tinha engolido tudo de uma só vez. Mas eu não me importava, a fome era maior do que qualquer outro sentimento. Eu mergulhei a colher novamente, que preencheu-se de sopa e vômito, e forcei-me a tomar tudo. Em poucos minutos restava apenas um prato vazio, enquanto eu sentia o vômito voltar a minha boca mas me forçava a engolir de volta.
Voltei pra cama e permaneci sentada. Olhei ao meu redor e não vi nenhuma câmera, espelho ou parede de vidro, nada que me indicasse estar sendo observada. Fiquei ali esperando algum sinal, alguma voz, mas não houve nada. Não apareceu ninguém. O tempo foi passando e comecei a me sentir entediada. Fazia horas que estava ali, talvez mais uns dias ou apenas minutos, e eu continuava sem entender o que estava ocorrendo. Até que, num momento em que estava de pé num canto, uma porta se materializou na parede à esquerda da cama. De pé, do outro lado, estava uma mulher, morena, em um vestido azul bebê. “Vamos.” Ela disse, enquanto um sorriso triste se formava em seus lábios. Eu, ridiculamente, por alguns segundos, me senti constrangida pela falta de roupas, mas não havia escolha. Eu movi minhas pernas fracas e lentas na direção daquela figura um tanto celestial.

A mulher de cabelos negros me levou por um corredor silencioso e igualmente branco, até chegarmos num elevador de vidro. Ela apertou o botão do andar e percebi que havia estado a vários andares abaixo do solo. Quando o elevador parou, seguimos por mais um corredor, este equipado com grades a cada dez metros, e um par de seguranças numa porta ao fundo. Estes se afastaram da ultima porta quando viram a mulher, e nós entramos no que parecia ser um hall de entrada antigo. Eu arrastava meus pés a fim de acompanhar os passos da moça, mas era difícil pisar no chão sem sentir dores internas. Talvez tivesse com algum osso quebrado. Entramos por mais uma porta e eu percebi que sangue escorria por entre minhas pernas. Quis falar com a mulher, mas tive medo, ou talvez vergonha. Mantive minha cabeça baixa por todo o percurso. Enfim chegamos a uma sala ampla com várias macas e outras duas mulheres no mesmo estado que eu. Elas estavam de pé, distante uma da outra, com um olhar assustado e embaraçoso no rosto. Eu entrei no local e não olhei diretamente pra elas, com vergonha. A moça de vestido azul que estava comigo falou. “Vocês irão vestir essas roupas que estão sobre as macas e aguardar. O transporte chegará em breve.” E saiu, fechando a porta atrás de si. Eu demorei a raciocinar um pouco, e então obedeci a mulher. As outras duas seguiram meu ato. O traje era uma calça larga verde, uma regata preta e uma jaqueta também verde. O tecido era quente e em uns minutos comecei a sentir calor. Quando já estávamos todas vestidas e aguardávamos, a mulher mais afastada começou a chorar. Ela tinha a cabeça raspada e um olho roxo, e soluçava em silencio. A outra mulher olhou pra mim com medo mas não disse nada. Eu levantei a mão e toquei minha cabeça. Havia umas falhas, mas meu cabelo ainda estava lá.
Eu quis falar alguma coisa, perguntar alguma coisa, mas as palavras não vieram. Minha cabeça ensaiava perguntas mas os lábios não se moviam. Eu só queria entender aquilo tudo. O por quê daquilo tudo.
Após o que pareceram horas, a porta da sala abriu novamente e dessa vez um homem aguardava do outro lado. Ele era alto e vestia um uniforme imponente. “Pra fora.” Ele disse, e nós três saímos em seu encalço. Andamos por um outro corredor e entramos em outro elevador de vidro. Dessa vez, o homem apertou um botão mais próximo do topo. Quando as portas se abriram, demos de cara com uma nave gigantesca. Ao redor dela, empregados corriam de um lado pro outro e num canto, diversas pessoas, vestidas como eu e as outras duas mulheres, se organizavam em várias filas. Homens e mulheres, com as mais repulsivas cicatrizes e feridas aguardavam orientação. Eu me juntei a eles, enquanto outros homens uniformizados riam e nos insultavam no idioma desconhecido. Um deles chegou mais perto e cuspiu no primeiro da fila, seus companheiros rindo. O homem humilhado apenas abaixou a cabeça. Era somente isso que ele podia fazer. Era só isso que todos nós prisioneiros, torturados e humilhados podíamos fazer. Afinal éramos todos criminosos, não? Presos por tentar defender nossa liberdade que vinha se perdendo.  Mas segundo estes homens, uniformizados e protegidos pelo poder, nós éramos o inimigo.
Uma sirene tocou e fomos todos empurrados pra dentro da nave, subindo a rampa de ferro. Chegamos à área dos passageiros e fomos sentados, presos por cintos de segurança. Em alguns minutos depois, o motor da nave ligou, em um estrondo abafado e em seguida já estávamos voando.
Eu não sei por quanto tempo ficamos no ar, mas pareceu o bastante. No trajeto, muitas pessoas choravam. Outras, assim como eu, apenas fiavam em silencio. Não havia janela ou nenhuma iluminação, e mais uma vez a escuridão caía sobre mim. Até que eu respirei fundo e deixei meu corpo relaxar, caindo no sono.
Quando despertei, os homens uniformizados estavam gritando conosco e nos puxando pra fora dos assentos. Uma mulher se assustou e caiu no chão, o homem de uniforme esbravejou sobre ela e deu vários chutes em seu peito. Eu não a vi na saída da nave. Mais uma vez eu pude sentir o Sol sobre minha pele, quando todos nós já estávamos do lado de fora. Eu não reconheci aquele lugar, mas fomos deixados no meio de uma floresta, aos pés de uma montanha. Os uniformizados desceram da nave e dessa vez distribuíram varias bolsas de mão, uma pra cada prisioneiro. Quando terminaram de entregar, voltaram pra nave e subiram a rampa. Em segundos já estavam voando no céu.
Todos nós ficamos sem saber o que fazer. Ninguém se conhecia, o medo era o único sentimento em comum entre nós. Eu sentei no chão gramado e abri a minha bolsa. Ela continha vários objetos que eu nunca tinha visto. Talvez fossem aparatos daquela tecnologia nova que os próprios homens de uniforme usavam, mas eu não entendia nada daquilo. A única coisa que eu reconheci foi uma seringa. Um liquido âmbar balançava dentro dela, talvez algum remédio. Eu não entendi nada. Olhei ao redor e vi aquelas pessoas desnorteadas, em prantos, implorando a morte ou a salvação. Eu, porém, ergui os olhos pro Sol e agradeci poder sentir aquele calor novamente. De súbito eu me levantei e tive uma ideia. Estávamos ao pé de uma montanha e poderia ser longe, mas eu não me importava. Comecei a caminhar, arrastando meus pés cansados e fracos por entre as folhas verdes e fui entrando na floresta.  Andei mais um pouco, até sentir o suor brotar em todos os poros de minha pele. Arranquei minha jaqueta e a larguei no matagal à minha volta. E caminhei. Por horas talvez, eu segui andando, mergulhando por entre as arvores selvagens e suas raízes contorcidas. Depois de mais um tempo eu avistei o que suspeitava.  Comecei a correr, ignorando as dores e o sangue que mais uma vez brotava de mim, e corri, e corri mais ainda. As lágrimas enfim nasceram nos meus olhos feridos e jorraram pelas minhas bochechas da mesma forma que as ondas do mar à minha frente banhava a areia fofa. Eu corri e me deixei cair na areia, sentindo cada grão, e me arrastando até chegar na água fria. Por um momento eu fui novamente aquela menininha inocente que corria com seu cachorrinho na praia, e me deixei chorar, e rir e chorar mais ainda à medida que as ondas me engoliam.

O Sol brilhava e as nuvens rodopiavam a sua volta, enquanto meu corpo jazia naquelas águas purificadoras. Já não havia dor, sangue ou machucado algum. Eu me deixei levar até não aguentar mais, até não ter mais forças e finalmente poder me entregar. Eu não entendi o por quê de todo o sofrimento que me fizeram passar, nem o que eles tinham em mente ao me deixar ali, mas eu finalmente encontrei uma chance de me libertar daquele inferno. Eu abri os braços e as ondas me carregaram, me puxando num abraço de salvação mortal, enquanto meu corpo repousava tranquilamente numa paz eterna.